domingo, 11 de maio de 2008

Dono do seu próprio nariz

Temos nada, não somos donos de nada, mais mesmo assim somos felizes, temos tristezas e anseios, mais somos felizes, temos momentos de glória e momentos de derrota, mais somos felizes do mesmo jeito, somos amparados e as vezes deixados de lado, mais somos felizes. Então podemos dizer que somos donos de nossas felicidades, de nossas tristezas, dos anceios, medos, da nossa burrice, tolices e idiotices, então nós somos donos de tudo, só não somos donos de nossos narizes. Mesmo sabendo que ele faz parte do nosso corpo, não mandamos nele, no sentido literal da expressão somos donos sim de nosso narizes, mais essa expressão vai além. Agora você se pergunta, por que não somos donos de nosso narizes então? Simplesmente porque aqui existem leis e existem proibições, ter 18 só siginifica algo a mais que nem faz tanta diferença mais quem sou eu pra saber o que é ser de maior?Vamos começar um protesto então!

EU QUERO SER DONO DO MEU PRÓPRIO NARIZ!





1 comentários:

Anônimo disse...

- DONOS DO SEU NARIZ -

Todos deviam ser donos do seu nariz mas infelizmente isto não acontece. No Brasil o sonho do nariz próprio continua inalcançável para a maioria. Só uma minoria privilegiada é dona do seu nariz. Poucos sabem que 70% dos brasileiros alugam seu nariz. O Governo vem tentando melhorar a situação através dos financiamentos da CEF para a aquisição do nariz próprio, mas com a correção monetária, reajustes, etc. o pobre acaba pagando pelo nariz muito mais do que pode.

Muitos vivem na ilusão de serem donos do seu nariz e na realidade não são. Mesmo os proprietários de nariz não têm direitos absolutos sobre ele. O nariz é um bem móvel. Qualquer transação envolvendo o nariz depende da fiscalização pública. Você descobre que o nariz não lhe pertence quando, por exemplo, pretende viajar para o exterior. Não há nenhum empecilho para você sair do país, ao contrário do que se pensa:

- O senhor tem completa liberdade de ir e vir.

- Sem papelada, sem nada? Posso sair quando quiser?

- Exato. Mas sem o nariz, é claro.

- Como? Eu sou dono do meu nariz.

- Perdão. Seu nariz é uma concessão do Governo. Pertence ao Estado.

- Mas eu não posso viajar sem ele. Somos muito ligados.

- Bem. Para tirar um nariz do país é preciso passaporte, visto de saída, atestado de bons antecedentes, atestado de ideologia do nariz... E o depósito compulsório.

- Quanto?

- Os olhos da cara.

Todos os impostos e taxas que você paga ao Governo são pelo uso do nariz. O nariz, na verdade, é a única parte da sua anatomia sobre a qual o Governo tem todo o poder. O Estado não interfere no resto do seu corpo que, no caso de prisão arbitrária, só vai junto porque quer. Foi isso, na opinião de alguns juristas, que tornou o habeas-corpus supérfluo entre nós. E, convenhamos, um haveas-nasalus seria ridículo.

Eu alugo o meu nariz e estou muito satisfeito com ele. Não conheço o proprietário. Pago o aluguel em dia, conservo o nariz em bom estado e não dou ao locador qualquer razão para queixa. Mas, teoricamente, o dono do meu nariz pode reclamá-lo quando quiser. Basta uma denúncia vazia de que eu estou metendo o meu (ou dele, no caso) nariz onde não devo e ele pode reaver o nariz. A situação é irrespirável.

Alguns proprietários de narizes alugados estão sempre vistoriando a sua propriedade. Acordam o locatário no meio da noite para ver como vai o nariz.

- Hum. Deixa ver. Parece bem. Este cravo aqui do lado...

- Vou espremer amanhã mesmo.

- Você limpa todos os dias?

- Por dentro e por fora.

- Olha aí; os óculos estão deixando marca. Não pode.

- Vou cuidar disto. Agora posso durmir? Estou meio resfriado...

- Que tipo de lenço você tem usado? De papel, espero. lenço de pano irrita o nariz. Olhe lá, heim?

Alguns contratos de aluguel são extorsivos. Incluem uma cobrança por espirro, taxa-coriza, etc.

Existe uma espécie de bolsa do nariz onde os grandes proprietários compram, vendem e trocam seus narizes.

- Tenho um nariz bem grande em Petrópolis. Troco por dois pequenos na Zona Sul.

- Nariz novo. Vendo. Estilo grego.

- Compro um afilado. Qualquer zona menos Avenida Farrapos.

- Vendo um achatado, simpático, amplas narinas, na Independência.

- Reformado, como novo, troco por adunco ou arrebitado.

A questão do nariz reformado é, legalmente, um pouco confusa. Quem é dono do seu nariz pode alterá-lo como quiser, desde que obtenha uma licença da Prefeitura. Um bom Pitanguy, hoje, vale uma fortuna. Mas quem aluga o seu nariz e quer modificá-lo deve antes consultar o dono.

- Estou pensando em tirar um pouco aqui, estreitar aqui e baixar aqui.

- Impossível. Não posso permitir. A senhora quer diminuir a área total do meu nariz.

- Mas vai ficar um Tônia Carrero perfeito. Vai aumentar de valor.

- Sei não... Aumentam os impostos...

- O senhor pode aumentar o aluguel.

- Feito.

Os donos do seu nariz têm o poder e não há nada que você possa fazer a respeito. O seu nariz pode ter sido vendido a uma multinacional agora mesmo e você nem sabe.


{Luís Fernando Veríssimo}

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